A casa de PRAIA ou da MÃE JOANA - CRÔNICA

Tenho um amigo, o Vito, que tem casa na praia. Quer dizer, ele não, a mãe. Mora lá, a Dona Joana. O Vito tirou um mês de férias para veranear, fazer companhia à mãe, descansar um pouco, pescar, dormir na rede, essas coisas. Relaxar. Contabilidade, o negócio do Vito. Dez horas por dia de números, todo dia, o ano todo. A mulher é professora em colégio público. Outro estresse. Seria eles, Dona Joana e os dois filhos numa praia pequena. Perfeito. Aí a filha pediu para levar a melhor amiga. Para ter com quem sair, já que o pai só sai para pescar e buscar cerveja. E olhe lá. A mãe prefere ler na rede, de onde só levanta para se bronzear ou fazer comida (não queria, mas o marido pede para dar uma força à Dona Joana). Tá, podia levar. A adolescente então lembrou da outra, que também era melhor amiga. Levar uma só daria ciúmes e com melhor amiga não se brinca. Tudo bem, iriam as duas. O filho protestou, também queria levar amigo. Foram. O amigo do filho apareceu lá com a namorada. Que levou uma amiga para apresentar, mais o irmão caçula de sete anos, asmático. Tudo bem, tudo bem. Um dia depois chegou o Beto, do escritório. Trazendo mulher, filhos, sogra e papagaio.
Vou ficar só uns dez dias, ele disse. E o Vito lembrou que fez a bobagem de comentar no trabalho que iria à praia. A mulher do Vito não achou justo e ligou para duas colegas de escola. Vieram no mesmo dia. Com maridos, filhos, cachorro e uma tonelada de bagagens. Dez dias e o Vito pirou. Cinqüenta e nove pessoas na casa. Pranchas de surfe substituindo portas, travesseiros e colchonetes soterrando paredes. Parecia a Faixa de Gaza, não pregava o olho. Crianças corriam pela casa aos gritos, quebrando uma louça a cada 3,7 minutos. Dois carros com som a mil a noite toda e uma banda de pagode acampada na garagem. Fora as boladas na cabeça toda vez que surgia na porta. Quando quis ir ao banheiro, apertado, e o mandaram entrar na fila, ele teve um chilique. O Vito. Gritou para que fosse todo mundo embora dali, e agora! Um surfista saradão o mandou ficar quieto, era amigo do dono, os incomodados que se retirem. O Vito, que nunca viu aquele cara na vida, furioso, apanhou uma barraca e foi acampar no terreno ao lado. O terreno de um juiz. A última vez que viram o Vito, ele entrava num camburão. Algemado. Dias depois ele voltou ao trabalho, abatido, mas feliz por ter cortado as férias no meio. E os novos amigos também. O único problema era o time de futebol lá do bairro. Queriam saber do ônibus alugado. O Vito iria ou não iria pagar, afinal?


fonte:http://criaturascronicas.blogspot.com/

Comentários

  1. Gostei. Se bobear as férias viram um inferno. Eu sei o que é isso.Bjs

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  2. que situação! o pior é que realmente acontece assim mesmo...

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  3. Apenas um rito de passagem...coisa boba!! Passagem da tarja vermelha para a preta. Mas, sem exagerar: sem direito à perícia por depressão. Aí é ser antipatriótico!!

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